sexta-feira, 18 de março de 2011

The Tree. - chapter 6 -


Sabia perfeitamente que estava a descarregar nele grande parte da sua raiva e frustração e sentia-se até um pouco mal por fazer tal coisa, mas sentia-se acima de tudo furiosa e desesperada, de tal forma que ainda não sabia como haveria de reagir ou até socializar com quem quer que fosse, sentindo-se estupidamente instável, de tal forma que num momento sentia uma vontade irracional de matar aquele desconhecido e noutro já queria ceder à dor que sentia bem no fundo do seu ser, e chorar como uma louca junto daquele ombro robusto, mas estranhamente confortável e chamativo.
A única coisa que ela queria era a sua mamã e o seu papá de volta, só queria adormecer nos braços do pai enquanto sentia o perfume doce da mãe, ou simplesmente aconchegar-se junto a ambos no sofá enquanto viam as series que a mãe tanto gostava, e que o pai se esforçava por gostar. Ela não queria um novo pai, nem uma nova família, só desejava a sua verdadeira família de volta. E, ao pensar nos dias quentes de Verão em que o seu pai passeava à beira mar com ela aos ombros e de mãos dadas à mãe, Emily deixou deslizar pelo seu rosto uma pequena lágrima cheia de saudade de um passado agora já tão distante …
- Está a tentar que eu sinta remorsos por ter sido brusco consigo?! – disse o desconhecido com uma voz serena e até um pouco carinhosa.
- Não.
- Pois, ainda bem, porque não ia sentir. Estava a merecer tal brusquidão! – disse ele, num tom um pouco mais divertido.
- Secalhar … - mumurou ela num tom que demonstrava teimosia - Pronto, peço desculpa. Infelizmente tenho uma tendência para descarregar as minhas frustrações em desconhecidos que invadem o meu lugar especial. – disse Emily sentindo novamente um pouco de remorsos.
- Ah, mas este é o seu lugar especial !? Que engraçado …
- Primeiro que tudo, podes parar de me tratar por você. Já descarreguei a minha fúria em ti e é obvio que isso te dá o direito de me tratares por tu. Segundo, porque é que é engraçado?
- Porque este também já foi o meu lugar especial. Quando era criança, morava aqui perto, e houve um dia que descobri este sítio. Achei-o mais que maravilhoso, até mesmo mágico. Sabes, quando somos crianças acreditamos em todo o tipo de tolices... Vinha aqui todos os dias, corria, pulava, trepava à árvore, e depois de já estar meio cansado, deitava-me junto a ela e imaginava que as pétalas de flor de cerejeira que voavam à minha volta eram pequenas fadas desejosas de companhia e de alguns momentos de brincadeira. Este lugar era muito importante para mim e tal como tu, também não achei muita piada quando uma menina de cabelos da cor do nascer do sol e faces coradas apareceu por aqui a correr e com lágrimas a escorrer do seu rosto como pequenas cascatas. Essa menina acabou por se tornar na minha melhor amiga, e depois no meu primeiro amor.

 
Ele sentia um carinho enorme por aquela menina, podia perceber-se isso facilmente pela maneira como o seu tom de voz suavizava, o olhar se tornava mais meigo e doce, e o seu corpo se relaxava e aconchegava junto ao tronco onde estavam encostados. Emily não conseguiu deixar de sentir um pouco de ciúmes daquela menina que preenchia os pensamentos daquele homem de exterior duro, mas interior meigo.
- Então e vieste na esperança de encontrá-la aqui?
- Hum … Mais ou menos. Eu à alguns anos atrás mudei de casa, mas por causa de alguns assuntos familiares vou voltar a viver aqui. Hoje foi a mudança e tinha de vir aqui, nunca fui capaz de esquecer este sítio. – murmurou enquanto olhava em seu redor – Mas a verdade é que ao vir aqui, tinha alguma esperança de a encontrar … Também nunca a consegui tirar totalmente dos meus pensamentos, aquela carinha banhada de lágrimas ficou gravada na minha mente.
- Mas combinaste encontrar-te aqui com ela? - perguntou Emily sentindo-se um pouco tola, por sentir ciúmes de uma pessoa que nem conhecia.
- Não … Éramos crianças, pensávamos que íamos ficar separados para toda a eternidade, ainda não sabíamos dos computadores, nem dos telemóveis, por isso perdemos o contacto e nunca mais nos voltámos a ver, nem mesmo falar.
- Então porque achavas que a podias encontrar aqui? Podias ter ido à lista telefónica, ou algo assim…
- Isso estragaria toda a magia da nossa relação! - disse ele um pouco indignado. - Além do mais, nós fizemos uma promessa, prometemos um ao outro que nos iríamos encontrar sempre aqui e que estaríamos sempre juntos. Não pude cumprir a última parte, mas quero cumprir a primeira! E o mais importante de tudo foi a promessa que lhe fiz de estar sempre com ela, quando ela mais precisasse de mim.
No momento em que ele disse aquilo, subitamente o sonho que Emily tinha tido na noite da morte dos seus pais preencheu-lhe os pensamentos e por mais que tentasse afastá-la do pensamento, a cara daquele menino estava gravada na sua mente.
- Eu costumo vir aqui todos os dias, e nunca vi aqui ninguém … Mas esta terra não é muito grande e conheço a maior parte das pessoas que aqui vive, se me disseres o nome dela posso tentar ajudar-te a encontrá-la. Lembras-te como é que ela se chamava?
- Claro que sim! Era um nome lindo … Emily.

- Continua -


3 comentários:

  1. Já pensaste em escrever um livro? A tua escrita envolve-me totalmente. Gosto muito.

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  2. Tens jeito pois. Não te podes desvalorizar! :)

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  3. Claro que sim! A perfeição vem com a prática, quanto mais escreves, mais hábito e desenvoltura ganhas a fazê-lo :)

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