domingo, 28 de agosto de 2011

The Tree. - chapter 12 -


                             ~ 10 anos depois ~

      O vento não estava muito forte, mas mesmo assim as pétalas voavam livremente com ele, tal como da primeira vez que ali tinha estado. Havia mais flores e podia jurar que eram ainda mais bonitas que no passado.  Eram tantas que faziam um manto colorido digno de uma princesa. E foi então que virou a sua atenção para a árvore que continuava igual ao longo de todos aqueles anos. Emanava a mesma magia e a mesma atmosfera relaxante de sempre tornando-a mestre de todo o bosque e venerada pelas flores que a cercavam.
     - Mamã, olha tantas flores! – Annie corria por todos os lados cheirando todas as flores por que passava e tentando ver todas as coisas que poderiam estar escondidas.
     Emily divertida com a felicidade da filha sentou-se na sombra da árvore com um sorriso nos lábios.
     - Annie tem cuidado, a correr dessa maneira ainda vais assustar as fadas. Sabes que elas são tímidas.
     Ao ouvir tal coisa Annie parou automaticamente e foi a correr ter com a mãe ajoelhando-se junto a ela. –  Fadas!? Mamã, eu não queria assustá-las… Mas viste-as? Elas disseram que eu as tinha assustado?
     - Não querida, a mãe nunca as viu. Mas o teu pai sempre me jurou que existiam e que aqui neste sítio haviam muitas e todas do tamanho de uma pétala. Ele tentou mostrar-mas, mas não deviam gostar muito de mim, porque nunca as pude ver.
     - Eu gosto de ti mamã! – disse Annie abraçando a mãe. – Hum… Mamã, podias contar-me histórias do papá?! – murmurou ela curiosa e com medo de magoar a mãe.
     Emily simplesmente sorriu e chegou a filha mais para ela e começando a acariciar-lhe o cabelo disse-lhe. –  Claro que sim, minha pequenina. Eu conto-te tudo o que quiseres saber.
     - Mãe, então será que podias contar-me como é que tu e o papá se conheceram?
     - Mas é claro que sim, minha pequenina. – respondeu-lhe Emily num tom carinhoso e com um sorriso repleto de memórias. – Sabes querida, quando eu tinha mais ou menos a tua idade eu era uma completa chorona e fugia de casa sempre que via os meus pais a discutir, para puder chorar sozinha num canto sossegado. Nunca ia para muito longe pois eles nunca tiveram muitas discussões e nunca foram muito grandes, mas houve um dia que eles tiveram uma enorme discussão, muito maior do que qualquer outra. Eu fiquei assustada e a única coisa que fiz foi fugir novamente. Tinha os olhos cobertos de lágrimas e nem conseguia ver o caminho que estava a fazer, mas simplesmente continuei a correr sem nunca olhar para trás. – contou-lhe Emily mostrando-se divertida com a memória.
     - Mamã eras uma chorona! – gozou Annie com a mãe.
     - Acho melhor teres cuidado porque tens os meus genes chorões, minha menina.
     - Não sejas má mãe. Vá, mas continua.
     - Hum, deixa-me pensar… Ah, sim ia na parte em que estava a correr. – lembrou-se Emily. – Eu continuei a correr e a correr até que cheguei a este sítio – disse ela olhando à sua volta, enquanto Annie seguia também o olhar da mãe. – onde vi pela primeira vez o teu pai sentado aqui junto a esta árvore a olhar para mim com um olhar desafiador, que me fez automaticamente perceber que ele não me queria ali, mas eu estava tão triste que nem sequer movi um simples músculo. Simplesmente fiquei a observá-lo enquanto ele já se levantava e começava a correr na minha direcção. Sempre com aquele olhar. Pequenina, essa foi a primeira vez que vi o teu pai.
~ 22 anos antes ~
      - O que é que estás aqui a … - Trevor ainda nem tinha acabado de falar quando viu as lágrimas que enfeitavam o rosto daquela rapariga desconhecida. – Hum..   Estás a chorar?! Porque raio estás a chorar?! Eu nem te toquei! – perguntou-lhe ele surpreendido e em simultâneo preocupado.
     A rapariga não respondeu, simplesmente deixou-se cair no chão escondendo a cara junto dos joelhos e tentando abafar os soluços do choro.
     Trevor ao vê-la daquela maneira soltou um suspiro e baixou-se também, na tentativa de ficar ao mesmo nível a que o rosto dela se encontrava.
     - Hum, pequenina, como é que te chamas?
     - Emily. – balbuciou ela entre soluços e ainda escondendo a cara.
     - Ah, mas que bonito nome. – disse-lhe ele cheio de energia e com um sorriso na cara na tentativa de animá-la, acabando por perceber que ela não lhe estava a ligar nenhuma, o que fez com que Trevor solta-se um suspiro de frustração, tentando novamente. – Sabes Emily, se continuares a chorar de maneira vais acabar por assustar as fadas. Elas só gostam de pessoas que se apresentam pela primeira vez com um sorriso.
     Subitamente aquela menina parou de chorar por um momento ficando a olhar para ele com um ar muito sério.
     - Tu estás a enganar-me! As fadas não existem! – disse ela irritada, por aquele estranho lhe estar a mentir.
     - Oh, só dizes isso porque nunca as vistes. Não sabias que elas são tímidas. Elas não aparecem à frente de qualquer pessoa.
     - Então e tu já as vistes?! – perguntou Emily cheia de desconfiança, mas também com um pouco de esperança.
     - Sim. Vi-as da primeira vez que vim parar a este lugar. Elas andavam a voar à volta daquela árvore ali. – respondeu Trevor apontando para a árvore.
     - Eu também as quero ver…
     - Mas olha que não lhes deves ter causado uma muito boa impressão. O melhor é limpares essas lágrimas e começares a sorrir, caso contrário elas nunca te vão querer conhecer.
     - Como é que posso sorrir? A mamã e o papá estão a discutir, como poderia eu sorrir…
     Trevor agora já compreendendo a situação, fez uma nova tentativa de reconfortar aquela menina assustada.
     - Diz-me uma coisa. Os teus pais sorriem muito um para o outro? Achas que eles se amam?
     - Hum, acho que sim. O papá está sempre a olhar para a mamã com o olhar… Especial.
     - Então não tens que te preocupar com nada, pequenina. Se os teus pais se amam eles vão resolver os seus problemas. Por isso agora já não precisas de estar assustada, podes simplesmente sorrir.
     - Achas mesmo isso? Vai ficar tudo bem?
     - Claro que acho. – respondeu-lhe ele com um sorriso na cara e seguro de todas as palavras que dizia.
     Nesse momento Emily mostrou-lhe um sorriso que ele nunca mais iria esquecer.  Um sorriso que ele iria desejar para sempre.
     - Podes mostrar-me as fadas?! Eu quero conhecê-las! – disse Emily cada vez mais alto à medida que se ia afastando correndo em direcção ao manto de flores. Mas parou de repente voltando-se novamente para Trevor, que ainda se encontrava no mesmo sítio, pensando naquele sorriso. – Como é que te chamas?
     - Trevor. – gritou ele.
     Emily nesse momento começou a correr em direcção a Trevor e ao chegar junto a ele estendeu-lhe a mão.
     - Hum, Trevor, queres ser meu amigo?
     Divertido com a inocência da pergunta Trevor suspirou e com um sorriso agarrou a mão que lhe tinha sido estendida.
     - Bem, acho que não tenho escolha. 
     - Agora que penso nisso foi graças ao teu pai que eu deixei de ser uma chorona. – disse Emily pensativa enquanto dava um toque ao de leve no nariz da filha. – Depois disso encontrava-me sempre com ele aqui.
     - Então quer dizer que se encontravam sempre aqui às escondidas!? Ah, mamã, é como naquelas histórias que tu me costumas contar antes de dormir. O papá era o teu príncipe encantado!
     - Acho que se pode dizer que sim. – disse Emily rindo-se.
     - Ah… Que bonito… Conta-me mais histórias!
     - Annie já está a ficar tarde. Não te esqueças que vamos jantar à casa do avô e que lhe prometes-te que ias fazer as vossas famosas tartes. A mãe amanhã volta a trazer-te aqui e conta-te mais histórias, mas por hoje chega. – advertia-lhe Emily à medida que se ia tentando levantar. Mas Annie agarrou-a fazendo com que ela se senta-se de novo.
     - Vá lá mamã… Só mais uma… - Ia pedindo ela fazendo o seu beicinho.
     - Ah, sinceramente, eu tenho mesmo de parar de te dar tantos mimos. Mas olha que é mesmo só mais uma e pequenina.
     - Yay! Eu adoro-te mãe. – Gritou Annie mais do que feliz enquanto beijava e abraçava a mãe.
     - Bem, então deixa-me pensar. Hum… Ah, já sei. E se eu te contasse sobre o primeiro dia em que estivemos todos juntos em casa?
     - Sim, conta, conta.
     - Sabes uma coisa querida. À pouco estavas a rir de eu ter chorado, mas olha que o teu pai também chorou, e como um bebé!
     - Somos uma família de chorões. Que engraçado. Vá, mas continua mãe.
     - Então como eu já tinha dito era a primeira noite em que estávamos todos juntos em casa. Tu eras tão pequenina. – disse Emily com um olhar ternurento enquanto afagava o cabelo da sua já tão crescida filha. – O teu pai não te consegui largar nem por cinco segundos.
~ 7 Anos antes ~

      Estava escuro e silencioso. Emily já se sentia farta de descansar e esquecendo tudo o que os médicos tinham dito sobre descanso absoluto foi começando a levantar-se, tentando não fazer barulho. O seu destino era o quarto da sua bebé e ao chegar lá ficou surpreendida com a imagem que tinha presenciado.
     Trevor estava sentado num banco debruçado sobre o berço e sem nunca desviar a sua atenção da sua pequena filha. Estava tão absorvido em descobrir todas as expressões que aquela cara pudesse fazer que nem se apercebeu da presença de   Emily. Aquele era um cenário que lhe aquecia o coração e colocava um sorriso nos lábios.
     Foi então que começou a andar silenciosamente em direcção a Trevor e lhe acabou por colocar a mão nas costas debruçando-se também um pouco sobre o berço.
     – És mesmo um pai babado. – sussurrou-lhe ela.
     - Mas tenho razões para isso. – murmurou ele tocando no rosto de Annie, desviando em seguida a sua atenção da filha, pela primeira vez, e olhando agora para Emily. – Devias estar a descansar. Volta para a cama que ainda é tarde.
     - Já estou farta de descansar e também não te vou deixar ser o único a desfrutar dela. – disse Emily sentando-se e encostando a cabeça ao ombro de Trevor.
     - Ela é tão bonita.
     - Quer dizer que quando ela crescer vais andar atrás dela com uma caçadeira? – perguntou Emily divertida com a imagem.
     - Mas é claro que vou. Ninguém vai tocar na minha menina.
     O quarto ficou nesse momento num silêncio total e Emily fechou um punho na camisola de Trevor e chegou-se mais a ele à medida que algumas lágrimas lhe começavam a cobrir os olhos.
     - Trevor, somos uma família. Uma verdadeira família.
     - Eu sei meu amor. Também nem consigo acreditar. Era tudo o que eu mais queria. Uma família com a pessoa que eu mais amo. – disse Trevor com toda a ternura na sua voz para em seguida a beijar tentando transmitir toda a paixão e amor que sentia por ela naquele momento.
     - Querida, eu apaixonava-me de novo pelo teu pai vezes e vezes sem conta. Sempre que o via sentado junto ao teu berço, quando te contava histórias ou te embalava pela noite dentro, quando brincava contigo e especialmente nos momentos em que te pegava ao colo e logo a seguir olhava para mim para que eu me juntasse a vocês.
     - Mamã, eu tenho saudades do papá. – balbuciou Annie enquanto esfregava o rosto no peito da mãe na tentativa de fazer desaparecer as lágrimas que já lhe escorriam pelo rosto.
     - Eu também meu amor. Mais do que tudo no mundo.
 ~ 3 Anos antes ~
     Conseguia ouvir a Annie a brincar no seu quarto já que ela não se continha no barulho que fazia, mas mesmo com tanto barulho ela continuava a ouvir os sons do relógio. Ela não conseguia deixar de pensar nas horas, e no facto de ser já tão tarde e de Trevor ainda não ter chegado. Sabia perfeitamente que era um medo irracional e sem cabimento algum, por isso mesmo tentava ignorar esses pensamentos, mas a verdade é que continuavam lá e o ‘tique-taque’ do relógio também.     - Annie prepara-te para vir jantar. – gritou Emily.
     - Mas mãe o papá ainda não chegou… - disse-lhe Annie ao chegar à cozinha.
     - Não faz mal querida. Assim quando ele chegar fazemos-lhe inveja. Vai lá lavar as mãos.
     - Okay. – concordou ela saindo da cozinha aos saltitos no preciso momento em que o telefone começou a tocar.
     - Ah, meu menino vais mesmo ouvir-me… - disse Emily preparando-se para ralhar com Trevor, mas quando colocou o auscultador percebeu que era uma voz desconhecida.     - Desculpe incomodá-la a estas horas da noite, mas poderia dizer-me se estou a falar com a senhora Emily?
     - Hum, sim é a própria. E quem é o senhor?
     - O meu nome é Peter e sou agente. Eu estou a ligar a esta hora para lhe informar que o seu marido, o senhor Trevor, teve um acidente de automóvel. Lamento muito dizer-lhe, mas o seu marido não conseguiu sobreviver ao impacto. Lamen…     Emily deixou de ouvir por completo e não conseguiu pronunciar nem uma só palavra, deixando cair o auscultador e caindo no chão junto a ele.      Ficou assim durante algum tempo, totalmente atónita, até que lhe escorreu uma pequena lágrima, que abriu o caminho para todas as outras e também para o pânico que já se formava dentro dela. Foi então que Emily desatou num pranto, chorando como nunca tinha chorado antes e gritando por ele, ainda não conseguindo acreditar no que tinha ouvido.
     - Mamã!? Mãe! Mãe! – Gritou Annie entrando na cozinha e correndo para junto da mãe ao vê-la naquele estado.     Mas Emily nada disse continuando simplesmente a chorar e a gritar, mas Annie gritou ainda mais alto por ela e abanou o seu corpo trémulo, para em seguida a abraçar com toda a força que o seu pequeno corpo continha.
     - Mamã, não chores. Por favor, não chores. – murmurou Annie já sem fôlego e também já a chorar.
     As lágrimas continuavam a cair do rosto de Emily, mas agora já não gritava, pelo menos o seu exterior, pois o seu interior continuava em pânico sem saber com reagir, mas juntou todas as forças para se puder acalmar.
    - Desculpa minha querida, a mãe descontrolou-se um bocadinho. Mas tudo vai ficar bem. – dizia Emily a ambas enquanto abraçava fortemente a sua filha. – Nós vamos ficar bem!
     - Mas nós vamos ficar bem, não vamos Annie?
     - Claro que vamos mamã, nós somos mais fortes que a pessoa mais forte do mundo. – respondeu-lhe Annie ainda com algumas lágrimas no rosto, mas com uma expressão decidida.
     - Querida, sempre que sentires saudades do pai podes vir aqui. Ele vai sempre estar aqui neste sítio. Aqui nunca te sentirás sozinha.
     - Digo-te o mesmo mamã.
     E uma pequena lágrima percorreu o rosto de Emily, que já formava um sorriso.  
Fim!

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